Ilhas da Personalidade e a Jornada de Riley
DANDARA MOREIRA
"Divertida Mente 2" nos leva de volta à mente de Riley, agora uma adolescente, enfrentando as complexidades de crescer. Suas ilhas de personalidade — representações emocionais de suas paixões e valores — continuam a ser o alicerce de quem ela é. As memórias, essas esferas coloridas que armazenam suas experiências, estão intrinsecamente ligadas às ilhas, moldando e remodelando seu caráter à medida que novas situações surgem.
Ela agora enfrenta desafios que exigem que suas ilhas se adaptem e evoluam. A Ilha do Hockey, que no primeiro filme era um símbolo claro de sua paixão, se transforma à medida que novos interesses surgem, representando como as experiências e os ambientes moldam não só a personalidade, mas também a resiliência. O cheerleading, por exemplo, poderia perfeitamente ocupar seu lugar como uma nova ilha, carregada de energia, trabalho em equipe e identidade.
E se Riley fosse uma jovem negra? Como isso impactaria suas memórias, sua formação e suas ilhas da personalidade? A vida de uma adolescente negra traria à tona uma Ilha da Resistência, onde cada desafio enfrentado devido à sua cor de pele adicionaria camadas de força e introspecção à sua personalidade. A falta de neutralidade corporal e a constante luta por aceitação em espaços que não foram feitos para acolher sua identidade racial criariam uma Riley mais consciente de si mesma e do mundo ao seu redor, mas também mais solitária em sua jornada.
Além disso, se Riley questionasse seu gênero ou enfrentasse desafios de classe social, suas ilhas seriam moldadas de maneira completamente diferente. O enfrentamento de preconceitos, as pressões sociais e a falta de representatividade não só formariam ilhas de resistência e luta, mas também forçariam Riley a uma introspecção que uma vida mais neutra talvez não exigisse.
O filme, por sua vez, mostra como as ilhas da personalidade são essenciais para nossa saúde mental, revelando a fragilidade e a força que todos carregamos. Embora "Divertida Mente 2" não explore as interseccionalidades de raça, gênero e classe, ele ainda oferece uma visão sensível sobre o crescimento e a saúde mental na adolescência, destacando a importância de acolher nossas emoções, independentemente de nossas circunstâncias.
Se Riley Fosse Dandara, e Vice-Versa
Se Riley fosse Dandara, e vice-versa, as ilhas da personalidade teriam cores e formas diferentes. A Ilha do Cheerleading, tão cheia de energia e camaradagem, seria uma fortaleza de autoconfiança e disciplina para ambas. Para Dandara, o cheerleading é mais do que um esporte; é uma declaração de identidade, onde a performance física e a presença de espírito se encontram em um espaço de expressão e afirmação pessoal.
A música do chiclete repetitivo, que poderia simbolizar uma trilha sonora constante da vida, seria a batida que embala as memórias de infância, seja das Spice Girls ou do rap visceral de Racionais MCs. Cada música que marca uma fase da vida se tornaria uma ilha, uma memória que pulsa e vibra, conectando-se a outros momentos e emoções.
Minha Ilha da Criação seria um lugar de palavras e ritmos, onde as autoras Bell Hooks e Cassandra Clare conversam com as batidas do rap e as melodias de Andrea Bocelli. Seria um espaço onde o toque artístico, que muitas vezes tentei esconder, se manifesta em histórias contadas e recontadas, uma ilha queer, artística e vibrante, cheia de cores e sons que desafiam a norma.
Crescendo como Dandara, a ilha da auto aceitação teria sido construída lentamente, pedra por pedra, em um mar onde as ondas do preconceito e da falta de representatividade batiam constantemente. Mas, assim como Riley encontrou seu caminho através das emoções conflitantes, eu também encontrei nas palavras, nas músicas e nas histórias a força para construir minhas ilhas, e continuar navegando nesse mar vasto e complexo que é a vida.
No fim, seja na mente de Riley ou na minha, as ilhas da personalidade são as âncoras que nos mantêm firmes em nossa jornada, lembrando-nos de que somos uma soma de todas as nossas experiências, e que cada ilha, cada memória, é essencial para formar quem somos.