sábado, 5 de julho de 2025

resenha de promethea

 
Quando as palavras resolvem brincar de deuses, uma leitura inspirada em Promethea

por Thiago José Lobato Soares

Ah, os deuses! Sempre tão cheios de si e agora, parecem ter invadido a caneta de um certo escriba moderno que resolveu dançar com Alan Moore e seus delírios herméticos. O texto que me caiu nas mãos inspirado em Promethea, essa entidade literária, mítica, feminina, mágica e (por que não?) meio metida é uma espécie de invocação criativa que misturava ocultismo com um toque de "me achei no Pinterest esotérico".

Não se trata de uma leitura fácil. Não porque o texto seja difícil, mas porque ele se recusa a caminhar em linha reta. Ele serpenteia. Ele dá voltas. Ele te seduz com símbolos que talvez nem o próprio autor compreenda por completo (mas quem liga? Alan Moore também deve fingir que entende às vezes).

As palavras, aqui, não querem informar. Querem performar. E performam bem, às vezes como sacerdotisas de um templo antigo, às vezes como estudantes de humanas descobrindo o tarô no intervalo da aula de matemática. E está tudo bem. Porque esse é o jogo: você não lê o texto, você o invoca. Você o deixa te possuir um pouquinho.

Há referências ao misticismo, à magia sexual, à kaballah, aos arquétipos femininos... tudo isso com o fervor de quem abriu um grimório na hora errada da lua. Mas também há ironia, há leveza, há o frescor de quem sabe que a criatividade é, no fim das contas, o feitiço mais poderoso.

Sim, o texto se leva um pouco a sério demais às vezes. Vestir um manto, desenhar um círculo no chão e declarar: "Eu sou a imaginação viva!"... mesmo que o máximo de ritual mágico do dia tenha sido passar café com uma colher de açúcar mascavo.

Em resumo: a leitura é uma viagem lisérgica sem substância ilícita, onde o mapa é desenhado com lápis de cor e a bússola é o inconsciente coletivo. Uma homenagem respeitosa e ao mesmo tempo irreverente à diva gnóstica do Moore, essa Promethea que, mais do que uma personagem, é um convite: venha criar o mundo com palavras.

E foi isso que o autor fez. Com certos exageros, brilhos e tropeços. Como todo bom mago iniciante.

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