Quando as palavras resolvem brincar de deuses, uma leitura inspirada em Promethea
por Thiago José Lobato Soares
Ah, os deuses! Sempre tão cheios de si e agora, parecem ter invadido a caneta de um certo escriba moderno que resolveu dançar com Alan Moore e seus delírios herméticos. O texto que me caiu nas mãos inspirado em Promethea, essa entidade literária, mítica, feminina, mágica e (por que não?) meio metida é uma espécie de invocação criativa que misturava ocultismo com um toque de "me achei no Pinterest esotérico".
Não se trata de uma leitura fácil. Não porque o texto seja difícil, mas porque ele se recusa a caminhar em linha reta. Ele serpenteia. Ele dá voltas. Ele te seduz com símbolos que talvez nem o próprio autor compreenda por completo (mas quem liga? Alan Moore também deve fingir que entende às vezes).
As palavras, aqui, não querem informar. Querem performar. E performam bem, às vezes como sacerdotisas de um templo antigo, às vezes como estudantes de humanas descobrindo o tarô no intervalo da aula de matemática. E está tudo bem. Porque esse é o jogo: você não lê o texto, você o invoca. Você o deixa te possuir um pouquinho.
Há referências ao misticismo, à magia sexual, à kaballah, aos arquétipos femininos... tudo isso com o fervor de quem abriu um grimório na hora errada da lua. Mas também há ironia, há leveza, há o frescor de quem sabe que a criatividade é, no fim das contas, o feitiço mais poderoso.
Sim, o texto se leva um pouco a sério demais às vezes. Vestir um manto, desenhar um círculo no chão e declarar: "Eu sou a imaginação viva!"... mesmo que o máximo de ritual mágico do dia tenha sido passar café com uma colher de açúcar mascavo.
Em resumo: a leitura é uma viagem lisérgica sem substância ilícita, onde o mapa é desenhado com lápis de cor e a bússola é o inconsciente coletivo. Uma homenagem respeitosa e ao mesmo tempo irreverente à diva gnóstica do Moore, essa Promethea que, mais do que uma personagem, é um convite: venha criar o mundo com palavras.
E foi isso que o autor fez. Com certos exageros, brilhos e tropeços. Como todo bom mago iniciante.
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