Os jogos não cooperativos com soma zero se referem
especificamente aos conflitos, enquanto os outros tipos de jogos correspondem à
atividade lúdica em si. Os jogos competitivos são o principal objeto de estudo
da teoria matemática dos jogos. Como vimos, ela é a análise lógica de qualquer
situação na qual apareça um conflito de interesses, com a intenção de encontrar
as opções ótimas para que, nas circunstâncias determinadas, consiga-se o
resultado desejado.
A teoria tem três
gerações diferentes: Von Neumann & Morgenstern, os criadores da Teoria dos
Jogos; Anderson & Moore, responsáveis pela passagem da teoria clássica para
a moderna caracterizada pela ideia de 'informação incompleta'; e Robert Aumann,
responsável pela noção de racionalidade bayesiana, que amplia a incerteza no
cálculo das escolhas.
Os matemáticos John von
Neumann e Oskar Morgenstern (1944) lançaram as bases da teoria em Theory of Games and Economic Behavior,
que interpretava as escolhas racionais e os acontecimentos sociais por meio dos
modelos de jogos de estratégia, ou seja, diante de uma certa gama de opções, os
agentes escolheriam aquelas estratégias de ação que lhes fossem mais vantajosas
de acordo com um cálculo acerca de sua probabilidade e satisfação máxima de sua
utilidade.
Uma estratégia é a lista
de opções ótimas para cada jogador, em qualquer momento do jogo. Para poder
deduzir as estratégias ótimas sob diferentes hipóteses quanto ao comportamento
do resto dos agentes, é necessário analisar vários aspectos: as consequências
das diversas estratégias possíveis, as possíveis alianças entre jogadores, o
grau de compromisso dos contratos entre eles e o grau em que cada jogo pode se
repetir, proporcionando a todos os jogadores, a informação sobre as diferentes
estratégias possíveis.
Von Neumann &
Morgenstern tinham o projeto de "construir uma teoria inequívoca da
racionalidade para situações cujo modelo é um jogo, onde toda ação está
condicionada em alguma medida pela expectativa das reações que ela pode
engendrar". Calcada sobre alicerces matemáticos, a Teoria dos Jogos propôs
uma nova maneira de formalizar os princípios da ciência política, a partir do
comportamento e preferências subjetivas.
Com Anderson & Moore
(1962), surgem as probabilidades subjetivas e a matematização dos conflitos se
torna mais psicológica. Eles comparam a matemática dos jogos à abordagem
comportamental através da analogia entre o jogo e o enigma (puzzle). O puzzle
caracteriza uma situação de incerteza externa, em que há algo que se ignora e
cujo conhecimento implica na solução do problema; enquanto no jogo há uma
situação de incerteza interna, nas quais as próprias tentativas de se alcançar
uma solução afeta os termos do problema que se quer solucionar. A ignorância
dos jogadores passa a ser estimada como ruído. Troca-se o modelo de dois
jogadores completamente informados em uma racionalidade coletiva perfeita por
um modelo múltiplo em que a intenção e as expectativas (individuais,
corporativas e/ou públicas) em relação aos outros passam a ser decisivas.
Com Robert Aumann (1987),
a teoria matemática dos jogos dará um novo passo, combinando probabilidades
lógica e subjetiva dos jogadores em seu modelo e adotando definitivamente as
ideias de 'mundo aberto' e 'observador externo'. Aumann amplia o papel da
incerteza porque não distingue jogo e puzzle, não faz distinção entre o ruído
externo e o intersubjetivo. Neste modelo, o observador é sempre um
meta-jogador.
Com isto, o Jogo, então,
passa a ser uma questão de (auto) Conhecimento. Aumann observa que, levando em
conta um determinado número de ações interdependentes, não há um único
resultado final, mas sim um número indeterminado de soluções possíveis, de
equilíbrios relativos para o sistema. O número de possíveis “soluções” se
multiplica bastante se admitirmos que as pessoas reais geralmente busquem
táticas suficientes para a realização de suas metas imediatas e não estratégias
ótimas. A metateoria de Aumann integra uma racionalidade econômica como tática
de todos à racionalidade estratégica de alguns. Para lidar com esta
complexidade de resultados possíveis, introduz-se a noção de 'informação
imperfeita' por meio da distinção entre incerteza e risco: enfrentando o risco,
os jogadores são capazes de atribuir probabilidades aos vários resultados, ao
passo que, confrontadas com situações de incerteza, não são capazes de fazê-lo.
Surge assim o cálculo da utilidade esperada ou do valor estimado de cada ação
quando enfrentam o risco. Atualmente versão de Aumann da teoria de jogos envolvendo cooperação
entre concorrentes e negociação de conflitos) tem aplicações na área de ciência
política e relações internacionais, ganhando prêmios de Nobel de economia em
1994 e 2005.
Com base nesse resumo da
teoria dos jogos, pode-se ver que sua vantagem é a forma como integra as
relações entre micro/macro, ação/estrutura e indivíduo/instituição em um único
modelo. A teoria dos jogos é uma teoria viva, que afeta o mundo que estuda. No
entanto, a grande desvantagem da matematização é a descontextualização
histórica e cultural dos jogadores.
De forma que a teoria dos
jogos vale mais como uma ferramenta heurística do que como uma teoria para
solução de conflitos. Essas limitações podem ser minimizadas pela sua inclusão
em teorias mais abrangentes e complexas, observando a contextualização dos
jogadores em situações históricas e culturais concretas e considerando também
os valores culturais e as normas sociais no comportamento pessoal.
Nenhum comentário:
Postar um comentário