domingo, 19 de janeiro de 2025

teu ribeirinho


  Cecília da Silva Calaça Alves 


Natal, 7 de agosto de 2024

Ao Rio Potengi, 

Foi no abraço de tuas águas que minha história começou. Não foi apenas de minha mãe que nasci, mas também de ti, companheiro eterno. Do ventre dela para tuas margens, aqui me fiz ribeirinho. 

A pesca, foi meu primeiro aprendizado. Da infância ao lado de irmãos e amigos, aprendemos juntos o ofício, compartilhando redes e sonhos sob o sol. Lembro das brincadeiras no rio, sempre com o alerta de nossas mães a não nadar. Mas como resistir? Escondíamos uma bermuda extra, para que a mãe não notasse as roupas encharcadas. Era em vão. Quando chegávamos em casa, a mãe pedia o braço. O gosto salgado do braço, não negava, éramos pegos na mentira. 

Hoje, já com 38 anos, vejo o quanto me moldaste. O rio, que em outro momento foi cenário de minhas brincadeiras, agora é minha fonte de sustento e identidade. Foi também na juventude, ao trabalhar como segurança numa embarcação, que tua sabedoria me alcançou. Aprendi a ler cartas náuticas e a manusear a bússola, ensinamentos valiosos de um mentor que me mostrou que nem tudo pode depender da tecnologia. 

Meu início como pescador foi marcado pela pesca de lagosta em redes lançadas longe de tuas águas, navegando por terras como Noronha e Ceará. Mas foi em ti que decidi fincar raízes e, após os 30 anos, retornei para o meu berço. Quando me perguntam de onde venho, respondo sem titubear: “Eu saí da barriga da minha mãe para as águas do Rio Potengi”. Porque, querido rio, és mais que paisagem. És lar, ofício e vida. 

Daniel Souza 

Teu ribeirinho, filho das tuas margens.

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