segunda-feira, 20 de janeiro de 2025

contemplação

 
Cecília Batalha


Em uma noite sem estrelas, as ruas da cidade pareciam uma linha invisível que conectava realidades distantes. O vento, gelado e errante, sussurrava segredos de um mundo que não víamos, mas pressentimos. Era como se a própria cidade tivesse vida, como se seus prédios e ruas respirassem, absorvendo tudo o que acontecia ali, desde o murmúrio de conversas esquecidas até o silvo distante de algo que nunca deveria ter sido dito. 

Na esquina da rua mais antiga, onde o tempo parecia mais denso, um homem vestido com um sobretudo escuro observava. Seus olhos estavam vazios, mas ao mesmo tempo brilhavam com um conhecimento que nenhum ser humano deveria carregar. Ele não era parte do cotidiano, mas estava, de alguma forma, ligado a ele, como uma nota oculta em uma melodia familiar. Ele sabia que algo se aproximava. 

De repente, um som que não pertencia ao mundo, um toque de violino que vinha de lugar nenhum, rasgou a quietude da noite. Não era música, era uma mensagem — uma frequência. O homem respirou fundo, e as sombras ao seu redor começaram a se mover, como se estivessem respondendo ao chamado. O concreto sob seus pés se torceu, como se o mundo inteiro estivesse se preparando para algo que ainda não podíamos compreender. 

E, então, o céu se abriu. Não da forma como os livros falam, mas como uma fenda. E dentro dela, havia cores que nunca vimos antes e palavras que nunca ouvimos. O homem sorriu, um sorriso triste, pois sabia que o momento havia chegado. O jogo que transcende o tempo estava prestes a começar. 

"Será que você está pronto para ver o que não deveria ser visto?", ele perguntou para a noite, sua voz se misturando ao vento. Mas ninguém respondeu. E talvez, naquele momento, fosse melhor assim.

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